Testemunho de um pregador.






 
Lembro-me com muita alegria daqueles dias naquele pequeno salão de paredes manchadas pelo mofo e a infiltração.
Do lado de fora uma placa: “Igreja Evangélica Pentecostal O Brasil para Cristo” e em destaque escrito em vermelho Entrada Franca.
Meu Pastor chorava ao ver a situação das paredes, e sempre dizia “um dia a gente se muda para outro salão”.
Tudo isso por que não valia à pena gastar com reforma, o salão era alugado, os recursos escassos e o “Seu Carlos” (Pastor Carlos Alberto Ribeiro Bastos) como ainda o chamo carinhosamente, nunca teve coragem de pedir mais uma oferta aos pobres irmãos. Somente chorava e lamentava á Deus esperando uma solução.
Alguns irmãos se irritavam e á ele chamavam de crente chorão.
Mais foi naquele lugar que tive um encontro com Deus, foi ali que recebi dons espirituais foi ali que preguei pela primeira vez.
As pernas tremiam, ainda hoje é assim, a boca seca, o suor frio escorre pelo rosto. Assim foi a primeira vez que subi naquele púlpito simples de madeira, a tribuna formada de cadeiras que foram tiradas da cozinha do Pastor. Aliás, segundo ele mesmo conta, a Igreja começou na sala da sua casa no bairro Jardim Piracuãma. (periferia da zona sul de São Paulo).
Se antes eu não falava a verdade, foi ali que aprendi a falar, ao ver o exemplo daquele ancião de cabeça branca, que na época não era tão ancião e ainda não tinha os cabelos brancos.
Homem integro, verdadeiro, que de tão verdadeiro se tornava rude, parecia não ter amor. Serio severo, ainda gosta da fama de doutrinador. Descobri seu ponto frágil, lhe faltava o carinho de um filho, ninguém lhe chamava de “Querido Pastor”.
Ganhei sua amizade e sua confiança, ganhei o seu amor, de vez em quando ainda me fala com aquela fala alta e grossa; “Meu filho serás o meu sucessor”.
Hoje continuo pregando e sempre procuro falar a verdade, lembrando dos ensinamentos do meu velho Pastor que hoje já não prega mais na Igreja, foi substituído por um Doutor.
Ainda não se cumpriu aquela profecia, que eu me tornaria o seu sucessor, ou talvez já se cumpriu, ele não soube interpretar. Caminho firme e contente e guardo no peito as palavras de quem um dia me ensinou a pregar.

O meu interesse não é dinheiro, nem tão pouco o status, quero apenas falar a verdade, ser sempre simplista e nunca ser considerado um mentiroso sofista.

Os fatos aqui escritos nesta poesia são reais, meu querido Pastor Carlos ainda é vivo, quanto a Igreja, se mudou para outro salão, um pouco maior um pouco melhor, sem infiltração, tem até uma sub-congregação que um dia fui dirigente. O Pastor continua chorão, já está jubilado, não o deixam mais pregar, hoje é este o motivo que o faz chorar.

11 Response to "Testemunho de um pregador."

  1. Eduardo Medeiros says:
    2 de fevereiro de 2010 às 19:00

    É Jair, você traz à lembrança, tempos mais simples da igreja cristã evangélica. Tempos de um evangelho mais simples, mais verdadeiro.

    Não que fosse um evangelho "melhor", mas também lembro que nos meus tempos de criança, a igreja cristã evangélica era mais verdadeira.

    Criar impérios, dinastias e poder econômico não eram as bases daquela igreja.

    Bem diferente de hoje.

    Era um evangelho mais obscuro, mais legalista, menos teológico, inimigo da cultura, mas com certeza, era um evangelho com mais caráter.

  2. Marcio Alves says:
    2 de fevereiro de 2010 às 19:07

    Jair quase Santo (você se ferro, quem mandou você inventar o seu próprio apelido com o seu próprio sobrenome. Agora aguenta a zuera!!!! Rsrsrsr)

    Quero destacar duas coisas rapidamente:

    1-A foto da nossa igreja (Ops! Quase me esqueci.....agora é minha ex-igreja.)
    Me bateu aquela saudade, dos amigos, de alguns cultos, de algumas pregações que eu já fiz ali.

    2-Da historia bonita de seu pastor.
    Foi simples, mas ao mesmo tempo muito bonito e relevante, pois estou cansado de ouvir dos megas avivalistas, tais cmo Charles Finny, Spurgeon entre muitos outros gigantes do grupo denominado de herois da fé!

    Bonita historia, bonito poema, bonita foto, menos você é claro!!!

    Abraços meu amigo

  3. Jair dos Santos says:
    3 de fevereiro de 2010 às 12:01

    Ainda ontem visitei meu querido Pastor Carlos, ele não tem internet em casa, então fiz questão de imprimir este texto e levar para ele.

    Por ele não conseguir ler, por causa de um problema de visão, li para ele que de tanta emoção o crente chorão começou a chorar.

  4. Jair dos Santos says:
    3 de fevereiro de 2010 às 12:06

    É Marcio sei que te bateu a saudade ao olhar foto da nossa igreja, quando vc viu seu tio Presb. Joaquim, um dos fundadores da Igreja, junto com seu outro tio Jose Ferreira.

    Não adiante vc dizer que é sua ex-igreja, lá estão suas origens.
    E quem nega suas origens, nega sua existência.

    É claro que sabemos que a vida toma seus rumos, mais teve seu ponto de partida.

  5. Marcio Alves says:
    3 de fevereiro de 2010 às 14:37

    E quem disse que, por eu ter saido da minha ex-igreja eu estou negando as minhas origens??


    Rompi com a igreja, rompi com o sistema, rompi com os antigos paradigmas, pois eu precisava tomar novos rumos, aprofundas novas “verdades”, mas eu já mais esquecerei de onde eu vim e das pessoas humildes com quem eu convivi – dentre elas, você meu grande amigo!!!

  6. Eduardo Medeiros says:
    3 de fevereiro de 2010 às 18:24

    Romper com o sistema, sim; romper com pessoas, não!!

    Romper com teologias, sim; romper com o "assombro", não!!

  7. Paulinha says:
    4 de fevereiro de 2010 às 00:14

    Oii querido,

    Passando aqui para parabenizá-lo pelo lindo texto de dedicação e consideração que você tem tido ao Pastor Carlos...

    Nada mais belo que o reconhecimento...e a saudade para nos fazer crescer!!

    Afinal de contas...é a partir do berço que começamos a querer sair para andar e gatinhar...

    Esta igreja que ficou aí registrada em seu passado, foi o seu berço....e creio que agora, os ensinamentos que aprendeu e as boas lembranças, vão qualificar ainda mais a sua caminhada e jornada que a vida lhe propor..

    Grande bjo.

    Graça e Paz!

  8. Jair dos Santos says:
    4 de fevereiro de 2010 às 07:47

    Paulinha obrigado pelo comentário é sempre bom ter vc aqui, assim como os demais, a casa é de vcs fiquem á vontade.

  9. produtosdoamor says:
    4 de fevereiro de 2010 às 22:13

    Jair meu querido! Quando é que vamos nos ver?

    Logo...logo! Domingão eu tô aí na área!

    Este teu poema me fez lembrar de um homem...

    Que embora hoje separados, não pare de citar seu nome...

    Homem de Deus com certeza...assim como o Pr Carlos...

    Que me ensinou a ser gente, ouvindo seus comentários...

    Em sua sala pastoral, falava-me abertamente...

    Sobre o futuro incerto, de todo este povo crente...

    Pregava sobre salvação...riquesas quase não falava

    E quando um irmão saía, em meu ombro ele chorava...

    Hoje este irmão "foragido" sou eu...

    Que deixei para tráz o "cargo" que a mim Deus prometeu...

    Dizendo-me pra eu cuidar dos Dele...

    Enquanto Ele cuida dos "meus"


    Jair! O nosso passado está tão vivo quanto nosso presente! Jamais queiramos nos esquecer de nossos primeiros pais no evangelho...foram eles quee moldaram nosso caráter.

    Saudades

    Edson Moura Santos

  10. Jair dos Santos says:
    5 de fevereiro de 2010 às 08:33

    Que imenso prazer ter novamente o comentário do meu amigo Edson Moura; Seja sempre bem vindo meu querido, como percebes este é um pedaço do meu coração.

    Resolvi seguir os teus conselhos e tenho me dedicado a poesia e acrescento a minha teologia, ou seja a percepção que tenho de Deus e a intimidade que procuro manter com ELE e entendi que isso só é possivel, me relacionando com os meus iguais.

    Em meio ao bombardeio que a classe dos pregadores tem recebido ultimamente, mesmo sabendo que alguns merecem tais criticas; Resolvi livrar a honra dos que ainda se mantem integros.

    Aqueles como nossos Pastores, que não tinham teologia e faziam da Biblia sua poesia e regra de fé e por causa deles que hoje estamos de pé.

    Deus abençoe os pregadores da ultima hora, os pregadores do telhado.

  11. Jair dos Santos says:
    5 de fevereiro de 2010 às 08:35

    Domingo te espero na casa do Marcio quero te abraçar meu amigo.

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